sexta-feira, 4 de março de 2016

Por que estudar de noite pode ser (muito) pior do que de dia

sala de aula

 Estudar de dia ou de noite? A resposta para esse simples questionamento pode ser decisiva para o nível de qualidade da formação educacional de um aluno.

De acordo com uma análise do Instituto Ayrton Senna, o desempenho dos alunos do noturno do Ensino Médio na Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB) é equivalente a um ano e meio de atraso em relação ao nível apresentado pelos estudantes do diurno. 

Em outras termos: é como se os alunos do noturno que estão prestes a se formar no terceiro ano do Ensino Médio ainda estivessem nos primeiros meses do segundo ano. 

No Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), essa tendência se repete. A média das notas de quem estuda durante o dia é até 5% maior do que entre os alunos do noturno, segundo cálculo de Mozart Neves Ramos, diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna. 

“O ensino médio noturno é o grande desafio da educação no Brasil”, afirma o especialista. “Nós precisamos implementar políticas públicas que cuidem desse aluno, caso contrário, ele pode ter sérios problemas no futuro”. 

De cada 10 brasileiros matriculados no Ensino Médio no Brasil, 4 estudam no período noturno. Entenda, abaixo, por que eles devem terminar o ensino básico com uma formação inferior a de quem estuda durante o dia. 

1. 33% dos professores do noturno dão aulas para disciplinas diferentes de sua formação 

Um levantamento divulgado nesta quarta-feira (2) pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) revela que há um percentual expressivo de docentes que dão aulas em disciplinas diferentes daquela de sua formação. 

De acordo com o coordenador de pesquisas do Cenpec, Antônio Augusto Gomes Batista, a qualificação dos docentes é um dos principais fatores que impactam na qualidade do ensino.

“O grande problema é que o recrutamento de professores para o período noturno é muito menos atrativo do que em outros turnos”, diz. “Os professores com mais qualificação tendem a ir para as instituições de ensino integral, onde o salário é dobrado, o horário é melhor e a localização é mais acessível. São condições muito desiguais”, completa. 

O pesquisador explica que, na maioria dos casos, a única opção é aceitar que um mesmo professor ministre mais de uma disciplina. 

2. 4 em cada 10 professores do noturno possuem uma carga de trabalho elevada

Ainda segundo a pesquisa do Cenpec, 42% dos professores que lecionam no período noturno atendem até 400 alunos distribuídos em dois turnos e em até duas escolas diferentes. O docente que trabalha com até 25 alunos em uma única instituição representa apenas 1,7% dessa taxa.

3. RJ lidera em disparidade entre os turnos

O Rio de Janeiro é o estado com a maior disparidade de desempenho médio entre os alunos do diurno e do noturno na Avaliação Nacional de Educação Básica (Aneb) de 2013, segundo dados mapeados pelo Instituto Ayrton Senna

Em uma escala de proficiência em português que vai de 150 a 375 ou mais, os alunos do noturno do estado somaram 36 pontos a menos do que os alunos do diurno. No exame de Matemática, a diferença do nível de proficiência entre os turnos foi de 31 entre os estudantes do estado. 

Mesmo assim, o desempenho dos alunos do noturno do Rio de Janeiro em português está entre os seis melhores entre os estudantes nas mesmas condições de outras unidades da Federação. 

“Esses dados mostram que a educação no Brasil peca muito em qualidade. Os índices ainda são muito baixos”, diz Mozart. “O Ensino Médio precisa passar por uma verdadeira revolução”.

No gráfico abaixo, o eixo vertical mostra o desempenho de português na escala de proficiência e o horizontal, a diferença de pontos entre os alunos do noturno e diruno de cada estado: 


Veja o ranking das melhores pontuações em Língua Portuguesa e Matemática dos alunos do Ensino Médio na Avaliação Nacional de Educação Básica (Aneb) de 2013: 

Estados Pontos em Língua Portuguesa Pontos em Matemática
Santa Catarina 259,2 271,1
São Paulo 256,9 258,1
Mato Grosso do Sul 254,5 257,9
Rio Grande do Sul 249,6 263,4
Rondônia 243,6 255,5
Minas Gerais 243,5 253,0
Rio de Janeiro 242,8 246,9
Acre 242,7 244,2
Roraima 242,3 242,9
Goiás 239,9 248,8
Amapá 239,1 238,3
Paraná 238,4 248,7
Mato Grosso 238,3 246,1
Espírito Santo 237,4 250,7
Pernambuco 236,1 241,4
Distrito Federal 231,9 241,0
Tocantins 229,9 237,0
Ceará 228,4 235,3
Piauí 227,6 235,0
Paraíba 225,6 232,5
Amazonas 223,9 230,8
Rio Grande do Norte 223,2 229,3
Pará 222,5 228,9
Maranhão 222,4 228,8
Alagoas 220,9 230,5
Sergipe 220,8 232,5
Bahia 213,1 228,8

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