sexta-feira, 4 de março de 2016

Como a tecnologia ajudou O Menino e o Mundo chegar ao Oscar

Alê Abreu foi o representante brasileiro no Oscar 2016 com sua animação chamada O Menino e o Mundo. O diretor levou às telas do cinema mundial uma história sobre autodescobrimento que parece ir contra o exibicionismo tecnológico de animações da Disney, como Divertidamente.

Em entrevista a EXAME.com, ele conta que sua ideia inicial era traduzir em imagens o mundo do personagem do longa. “Durante a produção do filme, tentei exercer a liberdade de uma criança ao desenhar, sem a autocrítica do adulto”, explica Abreu.

Para criar os cenários e os personagens, o diretor usou giz de cera, colagem e muito lápis de cor. “Misturei materiais de desenho, sobrepondo tudo de uma maneira muito livre, como fazem as crianças”, diz.

No entanto, para colocar tudo isso na tela do cinema, o diretor brasileiro precisou da ajuda da tecnologia. Ele explica que, após o uso de elementos manuais, quase toda a animação foi feita usando uma caneta digital.

Depois, os desenhos eram impressos e redesenhados numa mesa de luz para ganhar traços e texturas mais reais. Finalmente, eles eram ”scaneados e retornavam ao computador, para retoques e criação de desenhos intermediários, muitas vezes reutilizando partes das reproduções principais”, conta.

Uma das ferramentas utilizadas pelo diretor foi o Photoshop, apesar de o programa da Adobe não ser voltado para a produção de animações. Como O Menino e o Mundo precisou de muito tratamento gráfico e retoques digitais minuciosos, Abreu precisou improvisar com o recurso.

“Descobrimos um atalho que permite deslocar a visualização das camadas, possibilitando desta forma checar com facilidade os movimentos de uma animação, quadro a quadro”, diz o diretor. Assim, "a possibilidade de usar o programa para animação praticamente resolveu esta etapa do trabalho". 

Tecnologia e mão na massa

Abreu conta que quando começou, nos anos 80, as animações eram feitas de uma maneira mais artesanal. “Os desenhos no papel eram xerocados para folhas de acetato transparente que eram pintados no verso”. Além disso, os cenários eram feitos com tinta e lápis de cor.

Segundo o diretor, tudo isso foi sendo substituído pela computação gráfica devido ao desenvolvimento da tecnologia. Contudo, ele sente que “há um movimento de resgate que traz um bom equilíbrio ao uso de todas as ferramentas”.

Foi essa harmonia que Abreu tentou alcançar em O Menino e o Mundo. De acordo com ele, quando a produção chegou na etapa da utilização de um computador, a regra era imaginar o monitor como uma folha de papel. “Poderíamos usar as ferramentas digitais desde que conseguíssemos esta sensação de texturas e cores do papel”, finaliza.

Quando questionado se ele esperava que essa mistura se transformaria em uma indicação ao Oscar, Abreu se mostra humilde: “Nunca imaginei isso”. Porém, quanto à vitória, o diretor foi esperançoso. “Acreditei até o fim, mesmo sabendo que eram 95% de chances de Divertidamente ganhar”.

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