A sociedade é construída de maneira machista
Ocorre quando uma mulher está falando e é constantemente interrompida por um homem, o que a impede de concluir um pensamento. “É uma das coisas que mais me incomodam e dá para ver que é uma questão de gênero. É comum eu ser interrompida por homens que não são nem da área tentando falar do meu trabalho. Na faculdade também, vejo que é mais difícil para uma mulher provar seu argumento ou colocar uma opinião”, conta a universitária Thaís.
Machismo por parte das mulheres
Quando
falamos de machismo, pensamos apenas em homens tendo atitudes que
afetam as mulheres. Mas, o contrário também acontece, é o que explica
Letícia, de 20 anos. “Nada me irrita mais do que a falta de
solidariedade entre as próprias mulheres. Utilizar xingamentos baseados
no tamanho, tipo de roupa ou na quantidade de parceiros sexuais da
mulher me envergonham de uma forma absurda, já que, ao invés de
apontarmos os nossos dedos, deveríamos nos unir e conquistar a nossa
liberdade e igualdade”.
Olhares indiscretos
Os olhares lançados para mulheres nas ruas, transportes
públicos ou até mesmo em ambiente de trabalho causam um grande
constrangimento. "Uma das situações que me deixa mais incomodada é, com
certeza, quando sou encarada no metrô pelas costas", diz Júlia.
"Parei
de usar shorts, vestidos e roupas curtas que mostrassem a minha perna.
Me sentia muito invadida quando passava na rua vestida assim e me
olhavam. Hoje em dia, só saio de casa de shorts para ir em algum lugar
que seja bem perto e eu não vá demorar tanto", revela Chames.
Nos restaurantes e barzinhos, as "regras de etiqueta"
seguidas pela maioria dos garçons são extremamente machistas. "Quando
saio com o meu namorado, sempre dividimos a conta, afinal, ele não é
obrigado a bancar tudo sozinho. Eu trabalho e tenho orgulho de pagar o
que consumo, mas os garçons ainda entregam a conta para ele e se
assustam quando começamos a dividir o valor por dois", conta Bianca, de
29 anos.
"Quando peço uma bebida alcóolica, sempre servem para ele, mas ele não gosta de nada alcoólico", acrescenta."Já pode casar"
Saber cozinhar é visto pela sociedade como algo quase que obrigatório para uma mulher.
"O que me irrita muito vem tanto de homens como de mulheres. Gosto
muito de cozinhar e, muitas vezes, quando provam minha comida soltam
aquela famosa frase 'já pode casar, hein?!' como se eu não pudesse se
não soubesse fazer uma boa comida. Eu posso fazer o que eu quiser mesmo
se não souber cozinhar, lavar roupa ou fazer faxina na casa", explica
Franciele.
"Desde pequena, sempre gostei de brincar de coisas que eram consideradas de menino. Meu brinquedo favorito era uma bola e, na escola, quase ninguém aceitava isso. Poucas vezes fui permitida de jogar com os meninos durante o intervalo. Hoje, continuo me interessando por futebol, jogo rugby e não canso de escutar que 'isso não é coisa de mulher'. Aprendi a não ligar mais.", conta Juliana, de 25 anos.
Cantadas
"Não importa se eu estou de legging ou shorts,
sempre tem um cara que olha, que mexe. São coisas do tipo 'oi,
princesa', 'está de parabéns' ou 'gostosa'. Não tem um dia na minha vida
que eu não tenha me sentido intimidada ao andar na rua. Eu tenho medo
de andar sozinha, sair sozinha. E não é de assalto, não, é desses homens
que acham que tem algum direito sobre meu corpo", revela Laura.
Luis
também passou por isso. "Meu prédio entrou em reforma há um tempo.
Todas as vezes que cruzava com um operário, ele me cantava. Uma vez,
estava no meu quarto e ele simplemente apareceu na janela e começou a
querer conversar comigo. Sentia meu espaço totalmente invadido. Depois
disso, peguei um trauma e não consigo mais passar perto de obras, sempre
mudo o lado de rua".
O que fazer?
É por essas e outras que Thaís Regina, uma
feminista de 19 anos, afirma que práticas seculares de opressão à mulher
ainda estão presentes hoje em dia.
"Nós continuamos
acorrentadas em um ciclo voraz de abuso. É uma coisa muito maior, que
não vai acabar amanhã. A estrutura social ocidental é misógina. Mas e se
eu, sendo mulher, lançar um livro? E se eu, sendo mulher, não deixar um
homem me interromper? E se eu, sendo mulher, responder o assédio de rua
ou denunciar? E se eu, sendo mulher, resistir? É um começo. O feminismo
é uma ideologia política social revolucionária. A revolução já começou,
só que leva tempo.”, explica.