quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Usiminas tem ‘dia D’ para evitar pedir recuperação judicial



Diante de uma disputa por poder na Usiminas que se arrasta desde 2014, os japoneses da Nippon Steel e os argentinos da Ternium, sócios majoritários da siderúrgica, têm hoje um dia decisivo para evitar que a companhia recorra à recuperação judicial. O Conselho de Administração se reúne hoje para analisar os resultados da empresa em 2015. Na mesma reunião, será apresentado um plano de reestruturação — elaborado pela diretoria — que prevê aporte imediato de até R$ 1 bilhão por parte dos controladores para que a empresa continue a operar este ano.

CHOQUE DE GESTÃO’



Num cenário de excesso de oferta de aço e queda do produto nos mercados interno e externo, a Usiminas vive uma das maiores crises de sua história e não tem caixa para honrar dívidas, que somam cerca de R$ 4 bilhões até 2018. Só neste ano, vence R$ 1,8 bilhão do total.

A proposta de aporte de capital tende a esbarrar no conflito entre os acionistas. Uma fonte a par das negociações informou que os japoneses da Nippon Steel estão dispostos a colocar mais capital na empresa, enquanto os argentinos descartam a hipótese. Procurada, a Ternium confirmou por meio de nota que não está disposta a injetar recursos na Usiminas e questiona a atual gestão, que tem os japoneses no comando:

“A Ternium acredita que realizar aumento de capital não é possível sem que haja um choque de gestão na companhia. A Usiminas passa por uma crise estrutural que precisa ser resolvida. Novo investimento vai apenas adiar os problemas e não atacar a causa. É uma solução de médio prazo, frágil e ineficiente”.

Procurados, os japoneses da Nippon Steel não responderam até o fechamento desta edição. A Usiminas também não comentou o aporte de recursos necessário. Sem a anuência dos argentinos, o aporte de capital não pode ser feito já que as decisões precisam ser tomadas em conjunto, segundo o acordo de acionistas. Outra fonte a par das discussões afirma que os argentinos estariam dispostos a deixar a siderúrgica recorrer à decisão judicial para forçar uma mudança na gestão da empresa.

A Usiminas já conseguiu fechar um acordo com os principais bancos credores — Bradesco, Itaú e Banco do Brasil — para renegociar os R$ 4 bilhões que vencem até 2018. O êxito da renegociação, porém, está vinculado ao aporte de capital dos sócios, segundo uma fonte. A dívida total da Usiminas é de R$ 8,1 bilhões.


À espera de resultados


A siderúrgica divulga resultados amanhã. Segundo analistas, ela deve ter registrado prejuízo de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões no quarto trimestre de 2015. Até setembro do ano passado, ela acumulava perdas de R$ 2,3 bilhões.

— Além da situação ruim do setor siderúrgico, que prejudica o desempenho da empresa, a disputa dos acionistas majoritários inviabiliza um aporte de capital e a recuperação judicial torna-se uma alternativa — diz o analista Lenon Borges, da Ativa Investimentos.

Borges também prevê um Ebitda (lucro antes de impostos, depreciação, juros, amortizações) negativo, o segundo consecutivo, o que mostra a dificuldade operacional da empresa de gerar recursos para quitar seus débitos.

Uma das saídas para tentar evitar a recuperação seria a venda de ativos, mas, com a crise no setor siderúrgico e a economia fraca, os ativos estão desvalorizados, e o preço seria muito baixo, observa o analista Pedro Galdi, da Galdi Investimentos.

— A empresa colocou à venda a Usiminas Mecânica em novembro passado, quando contratou o banco Credit Suisse para encontrar compradores. Mas, até agora, isso não avançou e, mesmo que avançasse, o valor de venda não seria suficiente para as suas necessidades de caixa — avalia Galdi.

O analista lembra que o desligamento dos altos-fornos de Cubatão, no litoral de São Paulo, e de Ipatinga, em Minas Gerais, no ano passado, que reduziu sua produção de ferro gusa em cerca de 120 mil toneladas ao mês, deve se refletir negativamente no balanço da Usiminas.

Sem mais recursos do BNDES

As informações sobre um possível aporte dos acionistas para reforçar o caixa da companhia animaram os investidores, e os papéis da empresa avançaram na Bovespa ontem. As ações preferenciais fecharam em alta de 4,44%, cotadas a R$ 0,94. Na máxima, chegaram a subir 15,6% — por terem baixo valor, qualquer mudança de centavos no preço do papel representa uma grande variação percentual. Já as ações ordinárias, que dão direito a voto nas assembleias, mas que não fazem parte da composição do Ibovespa, subiram 11,2%, chegando a R$ 3,95.

Com o caixa apertado, a Usiminas teve de cortar investimentos e diminuir o ritmo de projetos em implantação. A previsão de investimento para 2015 era de R$ 1 bilhão, mas foram executados cerca de R$ 750 milhões, segundo fontes a par da situação. O mercado já trabalhava com uma redução de 25% nos investimentos, e a expectativa é que, em 2016, o corte seja ainda maior.

Para não elevar a dívida bilionária e dificultar ainda mais sua renegociação, a empresa interrompeu os saques nas linhas de financiamento do BNDES. Ao longo de todo o ano de 2015, não foi solicitado qualquer desembolso, de acordo com fontes. No site do banco, são listados seis contratos de financiamento para a Usiminas com prazos de amortização entre 2015 e 2020. Eles totalizam R$ 1,6 bilhão.

Segundo a Usiminas, boa parte dos projetos financiados pelo BNDES já foi concluída. A empresa reconhece, no entanto, que os projetos de modernização e proteção ambiental nas unidades de Cubatão e Ipatinga tiveram seu “cronograma ajustado de acordo com a possibilidade da empresa”. Eles somam cerca de R$ 700 milhões ou pouco menos da metade do R$ 1,6 bilhão.

Procurado, o BNDES disse que “torna público, em seu site, todos os seus contratos de financiamento realizados, mas tem impedimentos legais, por ser um banco, em fazer comentários sobre questões financeiras das empresas”.

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