No comício de
encerramento da campanha pelo referendo de domingo, 21, Evo Morales deu a
palavra de ordem ao grande número de partidários reunidos em La Paz: ‘O
povo, sim! O Império, não!’, disse o presidente boliviano, que busca a
possibilidade de mais uma reeleição.
A
Bolívia terá, no domingo, 21, um referendo convocado pelo Presidente
Evo Morales para saber do eleitorado boliviano se ele pode encaminhar ao
Parlamento nacional uma proposta de emenda constitucional que lhe
permita disputar mais um mandato consecutivo. Na votação, os eleitores
deverão responder “sim” ou “não”, e esse foi o mote para a frase de
efeito de Evo. Além disso, o presidente também se referiu,
negativamente, às petroleiras “transacionais brasileiras, francesas,
espanholas e inglesas”, que, segundo ele, estão contra seu Governo.
O especialista Diogo Dario, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, considera que, ao recomendar o “não ao Império”, o Presidente
boliviano se refere aos grupos domésticos que estão se mobilizando
contra ele e que teriam articulação com as petroleiras estrangeiras
presentes na Bolívia, com interesse no fim do Governo dele, que ele não
tenha chance de concorrer a uma nova reeleição.
“Quando Evo Morales ganhou a primeira eleição, o capital político dele
estava muito ligado à questão da nacionalização dos hidrocarbonetos”,
afirma Diogo Dario. “Foi aquilo que o tornou um candidato elegível e um
presidente extremamente popular, porque ele tomou uma atitude muito
corajosa e que era um tabu na política norte-americana, que é promover a
nacionalização de recursos naturais. É algo que tinha gerado conflitos
nos governos anteriores, e ele assumiu e cumpriu com essa
responsabilidade. É natural que ele jogue esta carta e invista novamente
nesse elemento como fator de mobilização, já que as últimas pesquisas
começam a colocar em ameaça o resultado que ele espera para o
referendo.”
Outro especialista em políticas latino-americanas, o Professor Rafael
Araújo, da Unilasalle, acrescenta que essas empresas transnacionais
atuavam na Bolívia até a nacionalização dos recursos naturais – neste
caso, dos hidrocarbonetos – realizada por Evo Morales a partir de um
decreto de maio de 2006. “Ele se remete à ação dessas petroleiras – no
caso brasileiro a Petrobras, no caso espanhol a Repsol – que sempre,
sobretudo na década de 1990, estiveram muito presentes na exploração dos
hidrocarbonetos bolivianos.”
Rafael Araújo destaca que neste momento, na hora de usar um inimigo
externo como fator de mobilização dos seus grupos sociais, “Evo Morales
não só faz uma retórica contra os EUA mas também contra
as transnacionais que atuavam no país, inclusive comparando dados,
trazendo o quanto essas empresas investiam no território boliviano e o
quanto o Governo vem investindo”.
“A própria eleição de Evo Morales foi fruto de um amplo acesso de
resistência popular iniciado com a ‘guerra da água’, em 2001, e que teve
seu ápice na ‘guerra do gás’, em 2003”, diz o especialista da
Unilasalle. “Naquele momento os grupos sociais que ocuparam as ruas
bolivianas reivindicaram a nacionalização dos recursos naturais,
sobretudo do petróleo e do gás natural. De certa forma, é um pouco essa
retórica de Evo Morales e dos seus pares no Governo, e que ganha
notoriedade tendo em vista a necessidade de vitória no referendo do
próximo domingo.”