sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A escravidão no Brasil na visão de um artista russo


A performance em que Fyodor evocou os “tigres”, escravos que levavam os excrementos de seus senhores para o mar
Foto: Divulgação / Pedro Agilson
 Na noite do último domingo, um homem branco acorrentado num poste de luz chamava a atenção de quem passava na esquina da Rua Oswaldo Cruz com a Praia do Flamengo. Uma mulher em um Mercedes-Benz parou e perguntou se precisava de ajuda. Carros da polícia e do Corpo de Bombeiros chegaram alternadamente; os poucos pedestres que passavam àquela hora tardia tiraram fotos. Pele branca, olhos claros num corpo de 1,91m, o russo Fyodor Pavlov-Andreevich, 39 anos, apesar de falar português, não respondeu às perguntas que lhe eram feitas. A não interação fazia parte da performance, uma das sete que compõem o projeto “Monumentos temporários”.
 A imagem do branco nu (ele sentou sobre um pedaço de jornal, com o qual escondia os órgãos genitais quando necessário), acorrentado numa esquina do Flamengo, não surgiu aleatoriamente. O artista, com residência em Moscou, Londres e Rio de Janeiro, aludia ao episódio em que um jovem negro foi detido dessa forma por moradores do bairro, em 2014. Na época, o registro foi imediatamente associado ao modo como os escravos eram (mal)tratados. E a escravidão no Brasil, do passado e do presente, com uma embalagem mais moderna, conduz esse trabalho do artista.
 Fico espantado quando vou, por exemplo, a eventos de arte aqui e não vejo um negro. Como é possível, se em algumas cidades, como Salvador, eles são maioria? — indaga ele. — O modo como a escravidão se perpetuou no Brasil, com tanta desigualdade, é único no mundo.

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