terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Trégua anunciada fica ainda mais distante na Síria

Menino de Aleppo se distrai em campo de deslocados em Idlib Foto: AMMAR ABDULLAH / REUTERS

KILIS, Turquia - A perspectiva de uma trégua, mesmo que temporária, na guerra civil síria parece ter surtido efeito inverso. Ontem, dias depois da Rússia negar que tenha como alvo civis, cinco instalações médicas e duas escolas foram atingidas por ataques aéreos atribuídos ao país em Aleppo e Idlib, deixando pelo menos 50 mortos no total. Após as ofensivas, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou que os ataques “lançam uma sombra” nos compromissos assumidos durante a conferência em Munique, na semana passada, que incluíam o fim de hostilidades por uma semana e o fim aos ataques a civis.
— Esses ataques são uma violação flagrante das leis internacionais — acrescentou o porta-voz da ONU, Farhan Haq.


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Os bombardeios põem em evidência a fragilidade do acordo e o impacto sobre civis na guerra aérea liderada pelo Kremlin — que ajudou a consolidar a posição do presidente sírio, Bashar al-Assad. O enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, era esperado ontem em Damasco e deve se encontrar hoje com o chefe da diplomacia síria, Walid Muallem, para discutir a retomada das negociações no dia 25. Mas ontem, Assad considerou difícil a implementação do cessar-fogo, que deveria entrar em vigor ao final desta semana.
— Há alguém que seja capaz de cumprir todas as condições em uma semana? Ninguém — afirmou à agência Sana.

Em Ma’rat al-Numan, na província de Idlib, o alvo foi um hospital apoiado pela Médicos Sem Fronteiras (MSF), atingido por quatro mísseis em dois ataques com um intervalo de poucos minutos. Ao menos sete pessoas foram mortas e oito estão desaparecidas, também provavelmente entre as vítimas. O Observatório Sírio de Direitos Humanos acusa a Força Aérea russa pelo ataque.

— A destruição da instalação apoiada pela MSF parece ser um ataque deliberado a uma estrutura de saúde — denunciou Massimiliano Rebaudengo, coordenador-geral da organização. — E deixa a população local de cerca de 40 mil pessoas sem acesso a serviços médicos em meio a uma zona de conflito ativa
.
Os confrontos também se intensificaram no distrito de Azaz, em Aleppo, último reduto rebelde antes da fronteira com a Turquia, onde pelo menos 14 civis foram mortos e 30 ficaram feridos em um hospital infantil e numa escola que servia de abrigo — as autoridades turcas também atribuíram o bombardeio à Rússia. Veemente, o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, acusou o governo de Vladimir Putin de agir como um “grupo terrorista na Síria”.

— Se a Rússia continuar atuando como uma organização terrorista que força a população civil a fugir, daremos uma resposta firme — declarou Davutoglu em visita oficial a Kiev. — Nós não vamos deixar Azaz cair.

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