Enquanto os resultados iniciais indicam que o presidente boliviano, Evo
Morales, perdeu o referendo que poderia lhe permitir concorrer ao seu
quarto mandato consecutivo, o mandatário afirmou que convocará
autoridades opositoras para trabalhar nos próximos meses. Segundo
Morales, o resultado oficial da votação realizada no domingo será
respeitado pelo governo. O chefe do governo ressalvou, no entanto, que é
necessário aguardar o fim da apuração, sobretudo nas áreas rurais do
país.
Vamos esperar pacientemente o resultado final do tribunal eleitoral,
somos otimistas — disse o presidente em entrevista coletiva desta
segunda-feira.
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De
acordo com o boletim parcial do Tribunal Superior Eleitoral, com 82%
dos votos apurados, 54,2% dos cidadãos votaram contra a possibilidade de
Morales ficar no governo até 2025, enquanto 45,8% foram a favor da
mudança constitucional.
O presidente escolheu um alvo após a derrota no referendo: as redes
sociais. Em coletiva, afirmou que seria necessário debater o papel
delas. A opoição fez amplo uso de mídias como Facebook e Twitter para
rechaçar a proposta de extensão do mandato.
Em alguns países, a má informação derruba governos e prejudica a nação —
criticou. — Sinto muito que os que usam as redes sociais com mentiras
estejam fazendo os valores das novas gerações se perderem.
As pesquisas de boca de urna já indicavam a rejeição dos bolivianos
ao quarto mandato consecutivo do mandatário. Segundo levantamento do
instituto Ipsos, 52,3% dos eleitores teriam votado pelo "não" e 47,7%
pelo "sim". A diferença era menor ainda segundo o instituto Mori, 51%
contra 49%.
Líderes da oposição já celebravam a vitória do "não", embora o
resultado final não tenha sido divulgado. O ex-candidato presidencial
Samuel Doria Medina afirmou que o oficialismo sofreu uma derrota e
assegurou que o voto derruba a ideia de um partido único hegemônico.
Uma vitória permitiria a Morales se candidatar em 2019 e assim
promovendo uma possível reforma na Constituição da Bolívia. Eleito em
2006, ele está há dez anos na Presidência, e esta é sua primeira grande
derrota.
Enquanto as cidades mostraram apoio ao "não", as áreas rurais da
Bolívia permaneceram fiéis à Morales, concluiu o levantamento do
instituto Mori. Os dados divulgados pela pesquisa aponta o "sim" perdeu
em todas as capitais do país. Uma das derrotas mais marcantes foi em
Potosí, onde o presidente só conseguiu 14% dos votos - em 2005, a região
foi onde ele teve sua maior porcentagem de voto.
A única cidade importante onde o presidente conquistou uma vitória
foi em El Alto. A pesquisa também mostra que seis dos nove departamentos
do país votaram contra as mudanças constitucionais.
No campo, Evo Morales conseguiu manter sua hegemonia, com 65% de
apoio, frente a 35% de rejeição. Mas o cenário representa uma perda em
relação a votação de 2014.
As urnas foram fechadas na maioria do país às 17h (18h no Brasil). O
resultado final poderá levar 48 horas para ser conhecido. Segundo o
órgão eleitoral, a participação foi maciça, chegando a 80%. Foram
autorizadas a votar 6,2 milhões de pessoas dentro da Bolívia, e 258 mil
cidadãos bolivianos no exterior. O departamento tem o maior número de
eleitores é a capital, La Paz, com 1,7 milhão.
O principal incidente no domingo foi registrado em uma escola em
Santa Cruz. A falta de atas de registro atrasou a votação, e eleitores
revoltados colocaram fogo nas cédulas. Segundo a emissora de TV Unitel,
estas seções deverão repetir a votação em 6 de março. Em outros locais, a
falta de material fez com que as seções só fossem abertas ao meio-dia,
prolongando a votação até as 20h (21h no Brasil).