quinta-feira, 21 de abril de 2016

Ttemer segue com articulações enquanto espera presidência

Michel Temer

A política brasileira tem sido comandada, nos últimos 13 anos do governo do PT, por aqueles que acreditam em um populismo respondendo às vozes das ruas.

Agora, um personagem muito diferente está prestes a se tornar presidente, o que, em certos aspectos, é uma volta a uma época anterior.

Trata-se de um operador com conhecimento das engrenagens, um negociador com fortes laços com a comunidade dos investimentos.

O vice-presidente Michel Temer, advogado especializado em Direito Constitucional, de 75 anos, que frequenta há décadas os salões e as instituições da vida pública, ajudou a impulsionar a votação na Câmara dos Deputados favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Depois de tentar ganhar aliados de Dilma até o último minuto, Temer foi para São Paulo para iniciar a composição de seu gabinete.

Sua estratégia em alguns momentos foi pouco convencional. Um arquivo de áudio de Temer praticando o que diria ao país após uma votação pelo impeachment foi enviado a assessores próximos antes da votação e chegou aos jornais locais, aparentemente deixando-o envergonhado. Embora sua assessoria de imprensa diga que o vazamento não foi intencional, o ocorrido serviu a um objetivo porque deixou clara a intenção expressa por Temer de preservar os programas sociais mais populares, rejeitando acusações do governo contra seus planos.

Sem o apelo popular do ex-presidente Lula, do PT, Temer espera que suas primeiras políticas mostrem pequenas melhorias econômicas rapidamente para melhorar a sua imagem com os brasileiros cansados da recessão, segundo Cristiano Noronha, vice-presidente da consultoria Arko Advice.

Experiência

“Parte da crise do Brasil decorre da tensão entre o executivo e o legislativo”, disse Noronha. Embora continuem existindo outros desafios, acrescentou, “pelo menos esse elemento será aliviado com alguém com a experiência de Temer”.

Na segunda-feira, Dilma prometeu lutar contra o impeachment, que agora vai para uma comissão especial do Senado que tem a tarefa de preparar um relatório aceitando ou rejeitando as acusações. Se o processo passar pelo Senado, Dilma terá que se afastar pelo menos temporariamente e abrir espaço para Temer.

Os executivos brasileiros que não conseguiam audiências com Dilma muitas vezes procuravam Temer, que durante a maior parte do primeiro mandato teve um cargo figurativo no governo. Foi só após a reeleição, em 2014, quando a presidente precisou do Congresso para aprovar medidas impopulares de ajuste fiscal, que Dilma recorreu às conexões políticas de Temer, especialmente com seu partido, o PMDB, que controla a Câmara e o Senado.

Essas conexões e alguns dos 367 votos pró-impeachment do domingo serão a base sobre a qual Temer planeja construir suas reformas econômicas, que incluem estabelecer uma autoridade orçamentária no Congresso para avaliar os gastos em programas públicos, a elevação da idade mínima de aposentadoria e a redução do número de despesas indexadas.

Consultas, candidatos

Temer consultou os ex-diretores do Banco Central, Armínio Fraga e Henrique Meirelles, para afinar as propostas políticas, e buscou o conselho de Marcos Lisboa, ex-diretor do Itaú e secretário do Ministério da Fazenda, e de Paulo Rabello de Castro, economista formado pela Universidade de Chicago e presidente da empresa de classificação SR Rating, segundo uma pessoa com conhecimento direto das conversas.

Temer passará a semana em São Paulo, discutindo candidatos aos ministérios que irão garantir lealdade política e implementar a agenda de reforma de seu partido, segundo uma pessoa que pediu anonimato porque a informação não é pública. Ele tinha planejado assistir à votação de domingo em São Paulo, mas voltou para Brasília para tranquilizar os aliados nervosos devido à ofensiva de última hora do governo.

A última esperança de Dilma para evitar seu impeachment é Renan Calheiros, o presidente do Senado, que no passado pôs em dúvida a capacidade de Temer de unir seu partido, e mais ainda de unir o país. Calheiros tem sido um dos caciques do PMDB mais dispostos a jogar ao lado do governo, mesmo sob pressão do restante do partido para cortar laços com a base aliada.

Outra variável é a Lava Jato, que já dura dois anos, e que colocou na prisão executivos e políticos importantes. Isso provoca nervosismo em Brasília com a expectativa de que qualquer um -- aliado ou inimigo -- possa ser o próximo a ser preso.

“O menor indício de perda de força da Lava Jato seria letal”, disse Nicholas Spiro, sócio da Lauressa Advisory.

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