quinta-feira, 21 de abril de 2016

Relatos mostram por que é inadmissível homenagear a ditadura

Deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) durante sessão na Câmara dos Deputados

Ao justificar o voto pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) decidiu homenagear o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Chefe do Destacamento de Operações Internas (DOI-Codi) de São Paulo entre 1970 a 1974, o militar foi o primeiro a ser reconhecido pela Justiça como torturador.

Em abril de 2015, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, suspendeu uma das ações penais contra Ustra. Ela alegou ser necessário aguardar o julgamento da revisão da Lei de Anistia, pela própria Corte. O militar morreu de câncer em 15 de outubro de 2015.

Durante depoimento na Comissão Nacional da Verdade, Ustra negou ter cometido crimes e afirmou que os militares defendiam a democracia.

 

Dilma Rousseff

Em 2001, a presidente Dilma Rousseff contou detalhes de sessões de tortura às quais foi submetida quando presa em 1970. Ela foi colocada no pau de arara, tomou choques elétricos, apanhou de palmatória e foi submetida a socos.

“Uma das coisas que me aconteceu naquela época é que meu dente começou a cair e só foi derrubado posteriormente pela Oban (Operação Bandeirante). Minha arcada girou para outro lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um soco e o dente deslocou-se e apodreceu. Tomava de vez em quando Novalgina em gotas para passar a dor. Só mais tarde, quando voltei para São Paulo, o (capitão Benoni de Arruda) Albernaz completou o serviço com um soco arrancando o dente.”

Miriam Leitão

A jornalista Miriam Leitão foi uma das vítimas de tortura com animais, incluindo a utilização de uma jiboia pela equipe de interrogatório do DOI-CODI do I Exército, comandada pelo coronel Paulo Malhães. Ela foi colocada nua em uma sala com o animal.

“O homem de cabelo preto, que alguém chamou de Dr. Pablo, voltou trazendo uma cobra grande, assustadora, que ele botou no chão da sala, e antes que eu a visse direito apagaram a luz, saíram e me deixaram ali, sozinha com a cobra. Eu não conseguia ver nada, estava tudo escuro, mas sabia que a cobra estava lá. A única coisa que lembrei naquele momento de pavor é que cobra é atraída pelo movimento. Então, fiquei estática, silenciosa, mal respirando, tremendo. Era dezembro, um verão quente em Vitória, mas eu tremia toda. Não era de frio. Era um tremor que vem de dentro. Ainda agora, quando falo nisso, o tremor volta. Tinha medo da cobra que não via, mas que era minha única companhia naquela sala sinistra. A escuridão, o longo tempo de espera, ficar de pé sem recostar em nada, tudo aumentava o sofrimento. Meu corpo doía.”

Gilberto Natalini

Gilberto Natalini era médico, com orientação política à esquerda, apesar de sem filiação político-partidária. Ficou surdo em em razão dos choques que sofreu. Ele virou alvo dos militares por ser leitor do jornal da Molipo (Movimento de Libertação Popular).

“Pegaram-me e me jogaram para dentro do carro e me levaram para a rua Tutoia do DOI-CODI.(...) Então me levaram pra lá, me puseram na sala para me interrogar, (...) inclusive pelo coronel Ustra, ele me interrogou várias vezes, na sala, e a sala era muito pequena e escura, tinha umas lâmpadas assim no rosto da gente, então me torturaram nesse momento fisicamente, eu fui bastante pressionado psicologicamente, ameaçado de todas as formas pra dizer como é que eu tinha o contato com esse jornal.”

Amelinha

Integrante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Maria Amélia de Almeida Teles teve os filhos raptados depois de ser presa com o marido, César, em dezembro de 1972.

“Tive os meus filhos sequestrados e levados para sala de tortura, na Operação Bandeirante. A Janaina com cinco anos e o Edson, com quatro anos de idade. [...] Inclusive, eu sofri uma violência, ou várias violências sexuais. Toda nossa tortura era feita [com] as mulheres nuas. Os homens também. Os homens também ficavam nus, com vários homens dentro da sala, levando choques pelo corpo todo. Inclusive na vagina, no ânus, nos mamilos, nos ouvidos. E os meus filhos me viram dessa forma. Eu urinada, com fezes. Enfim, o meu filho chegou para mim e disse: “Mãe, por que você ficou azul e o pai ficou verde?”. O pai estava saindo do estado de coma e eu estava azul de tanto... Aí que eu me dei conta: de tantos hematomas no corpo.”

Ana Rosa Kucinski

Militante da Ação Libertadora Nacional, Ana Rosa Kucinski Silva desapareceu com o marido, Wilson, em 22 de abril de 1974, nas proximidades da praça da República, em São Paulo, onde os dois haviam combinado de almoçar. Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, o ex-delegado Cláudio Guerra, relatou episódios de tortura.

“Ela estava em Petrópolis e ela foi muito torturada. Ela estava visivelmente... havia sido violentada. Com os órgãos genitais cheios de sangue e a roupa toda cheia de sangue.

Guerra foi responsável pelo transporte, no porta-malas de seu carro, dos corpos de Ana Rosa e Wilson, da Casa da Morte até a Usina Cambahyba, onde teriam sido incinerados

ditadura

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