Fabricante de equipamentos de proteção individual (EPI), roupas de proteção contra arco elétrico e uniformes, a Leal Indústria e Comércio tinha um problema sério para resolver. Como saber, diante de uma gama enorme de produtos, quantos e quais estavam estocados em seus três centros de distribuição. Até o ano passado, a empresa nunca havia feito um inventário completo do estoque. Quando necessário, realizava uma contagem manual em algumas linhas e sempre encontrava erros.

Muitas vezes algumas peças eram dadas como vendidas – ou pior, perdidas – e, tempos depois, encontradas em alguma prateleira. “Nossa produção é bastante diversificada: vai de roupa funcional para funcionários de concessionárias elétricas a luvas de açougueiro e cintos paraquedistas usados na manutenção da rede elétrica”, afirma Adailton Siqueira, gerente de sistemas da Leal. “Temos pallets com oito tipos de produtos e isso dificulta muito o controle.”

Em dezembro do ano passado, na tentativa de rastrear os produtos dentro da empresa, a Leal decidiu investir em um projeto de Radio Frequency Identification (RFID), tecnologia que permite identificar e rastrear objetos por meio de sinais de radiofrequência emitidos por etiquetas eletrônicas (ou chips) e captados por leitores.

A Leal implantou a tecnologia em fases, por linha de produto. Dividiu o projeto em três pilares: software, etiquetas e equipamento de leitura. “O software recebe as informações das etiquetas e as envia para o ERP”, diz Siqueira, referindo-se ao sistema de gestão empresarial. “Essa integração entre os dois sistemas, que pensei ser a etapa mais complicada, foi a mais simples”, afirma. O mais difícil, segundo Siqueira, foi encontrar as etiquetas certas para cada linha. Foram feitos alguns testes até chegar à escolha correta.

No início do projeto, a Leal fez um teste com sua linha de luvas isolantes. “Levamos três horas para fazer a contagem manual de 5 mil itens”, afirma Siqueira. “Com o RFID, foram necessários apenas 15 minutos para contar 20 mil itens.” A contagem manual ainda apresentou erros, enquanto a do RFID foi precisa. “Além de produtividade, ganhamos confiança nos inventários”, diz.

Outro benefício da tecnologia está no fato de que cada etiqueta eletrônica carrega o número de série do produto. “Se houver 50 mil luvas em estoque, teremos 50 mil números de série diferentes para saber onde cada uma está posicionada”, diz Siqueira. Assim, se a mesma etiqueta for passada no leitor duas ou 100 vezes, a contagem continuará exata, porque o leitor contabilizará apenas um produto.

Nas etapas seguintes à implantação, outras vantagens foram descobertas. “A ideia era usar a tecnologia apenas no produto pronto, mas, quando vimos seu potencial, decidimos expandir para toda a operação”, afirma Siqueira.

Agora, a identificação por radiofrequência está presente também nas fábricas da Leal. O RFID rastreia e controla a utilização de matéria-prima e otimiza o estoque. Ninguém precisa avisar que está na hora de comprar determinado insumo porque essa informação vai automaticamente para o ERP.  

O próximo passo é fazer um portal móvel de leitura que possa identificar todos os produtos de um pallet de uma única vez. Em breve, a empresa deve expandir os benefícios do sistema de identificação para que os clientes também façam o rastreamento automático dos produtos, com informações sobre data de validade e de manutenção preventiva.

A Leal trabalha com equipamentos de segurança e sabe que alguns tipos de uniforme não podem ser usados por dois dias consecutivos, por exemplo. “Com a etiqueta, quando o profissional passar pelo portal de leitura, imediatamente a empresa vai saber se ele está descumprindo essa regra, coisa que dificilmente conseguiria controlar”, afirma Siqueira. 

Renata Rampim, consultora e especialista em RFID, afirma que, assim como a Leal, muitas outras empresas vêm descobrindo outras funcionalidades da tecnologia RFID que não tinham considerado quando começaram a analisar o retorno sobre investimento (ROI) do projeto. “Elas procuram RFID porque precisam de uma solução rápida e confiável para fazer a contagem de produtos, mas acabam encontrando muito mais benefícios”, diz.

Renata começou a trabalhar com RFID em 2007. De lá para cá, testemunhou uma transformação nessa tecnologia. O custo despencou. “Hoje, é possível comprar etiquetas a 0,05 centavo de real. Há quatro anos, custavam 0,55 centavo, em média”, afirma Renata. Outra revolução aconteceu na eficiência da leitura de dados. “Desde 2012, com a chegada de novos chips e versões de leitores, outras aplicações foram descobertas”, diz ela. Para embalagens úmidas, por exemplo, a tecnologia era ineficiente. Agora isso não é mais um problema.