sexta-feira, 15 de abril de 2016

Argentina favorece grandes em acordo, diz pequeno investidor

Grafite em Buenos Aires exibe caricatura do juiz americano Thomas Griesa atrás das grades junto com fundos abutres

Nos 15 anos depois que o calote recorde da Argentina eliminou a maior parte da riqueza de Mohammad Ladjevardian, o imigrante iraniano fez a viagem de 8.000 quilômetros dos EUA a Buenos Aires várias vezes, com poucos anos de intervalo, para tentar recuperar seus prejuízos.

Ele perseguiu ministros e advogados em Washington e Nova York e importunou outros credores para tentar uni-los à sua causa.

Ele afirma que nunca teve a chance de sentar-se à mesa de negociações.

As esperanças de Ladjevardian de receber um grande pagamento foram frustradas na quarta-feira, quando um tribunal de Nova York abriu caminho para que a Argentina vendesse US$ 15 bilhões em dívida estrangeira, encerrando, em essência, a disputa de anos ao eliminar a pouca vantagem que Ladjevardian e os cerca de 500 outros investidores como ele ainda possuíam.

A decisão dependia de o país sul-americano poder demonstrar que fez um esforço de boa-fé para negociar acordos com os chamados holdouts, os investidores que recusaram as ofertas anteriores em 2005 e 2010. A equipe jurídica da Argentina apontava para um total estimado em US$ 8,8 bilhões em pactos firmados nos últimos meses com pesos-pesados como a Elliott Management, de Paul Singer, e a EM, de Kenneth Dart. Mas para uma minoria -- incluindo investidores que cobram algumas centenas de milhares de dólares ou mais de US$ 10 milhões, como Ladjevardian --, as tentativas da Argentina de fechar um acordo foram tudo, menos justas, disse ele.

"A Argentina ainda é caloteira”, disse Ladjevardian, de 61 anos, proprietário de uma empresa de investimento e administração imobiliária de Houston logo após a vitória judicial da Argentina. “Eu não lutei por 15 anos para ser humilhado desse jeito”.

Ladjevardian e os investidores como ele não estão sendo deixados sem nada. Eles têm direito aos mesmos 150 centavos por dólar que todos os detentores de dívidas de longo prazo estão recebendo. Mas Ladjevardian tem os mesmos títulos que Singer. Ele entrou com ação judicial como Singer. Ele é credor da Argentina há muito mais tempo. E quer o mesmo acordo que Singer conseguiu: 369 por cento do principal da dívida.

“Nós tentamos realizar negociações de boa-fé, mas é impossível”, disse Max Bohrer, dono de uma fábrica de plásticos em Munique que gerencia os ativos de sua família, incluindo US$ 10 milhões em títulos da dívida argentina adquiridos três anos antes do calote. Bohrer também disse que tentou negociar e foi repelido. “Foi angustiante escutar que ou aceitávamos a oferta ou ficávamos sem nada, ou seja, que era pegar ou largar”.

O governo argentino buscará finalizar as condições com todos os detentores de dívidas em breve, segundo um representante do ministério das finanças. A assessoria da pasta não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre se havia diferença de tratamento entre pequenos e grandes detentores de dívidas.

A decisão de quarta-feira do Tribunal de Apelações de Nova York, nos EUA, poderia estabelecer um precedente perigoso para as futuras reestruturações de dívidas soberanas, segundo o CEO da Greylock, Hans Humes, que ainda não fechou um acordo pleno com a Argentina pelos títulos em calote que ele possui.

“Esta é a primeira vez em que se diferenciou os pagamentos para beneficiar as pessoas que mais brigaram por eles”, disse Humes, na quarta-feira, à Bloomberg Television.

Quanto à Argentina, a decisão de cancelar uma medida cautelar encerra mais de uma década de litígio sobre o pagamento de dívidas que manteve a segunda maior economia da América do Sul fora dos mercados internacionais de crédito. O país visa retornar aos mercados com uma venda de US$ 15 bilhões em dívidas em 19 de abril, segundo o ministro das finanças, Alfonso Prat-Gay.

“O tribunal define um padrão de desempenho e utiliza seu poder cautelar para estabelecer parâmetros até que o resultado seja bom o bastante -- não perfeito”, disse Anna Gelpern, professora de Direito da Universidade de Georgetown, em Washington. “É claro, não deve ser bom estar do lado errado da história”.

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