O ex-embaixador e
diplomata e atual deputado oposicionista turco Osman Koruturk divulgou à
Sputnik a sua opinião sobre o estado atual das relações
americano-turcas tendo em conta a crise síria e sublinhou que a política
da Turquia na Síria prejudica as relações do país com os EUA,
especialmente após o ultimato turco “ou nós, ou os curdos sírios”.
“Quando
as autoridades turcas puseram os EUA perante o ultimato na forma ‘ou
nós ou o Partido da União Democrática [PYD]’, os americanos não deram
uma resposta concreta, preferindo se limitar a uma formulação evasiva
sobre a defesa dos seus próprios interesses. Qual foi o sentido de fazer
tal ultimato? De acordo com o diplomata, se tratou de um erro de
Ancara.
Segundo Osman Koruturk, a Turquia “que se transformou em Estado instável
e inseguro aos olhos da comunidade internacional” distanciou-se
intencionalmente dos outros membros da OTAN e escolheu os aliados
errados:
“A Turquia é um membro da OTAN, mas vemos que ela se desviou quase
completamente da linha de parceria eficaz com o Ocidente. Todos os
membros da Aliança estão de um lado e a Turquia está no lado oposto. Ao
nosso lado só estão a Arábia Saudita e o Qatar. Esta colaboração não
traz resultados além de a Turquia mergulhar ainda mais na solidão e no
isolamento na região”.
Será que a Turquia pode romper este círculo vicioso ao realizar uma
operação terrestre na Síria? O diplomata acha que é uma ideia ruim.
“Se a Turquia se atrever a realizar uma operação militar na Síria,
ela irá enfrentar não só o exército governamental da Síria. Na Síria há
forças diversas: o Irã, a Rússia e, por outro lado, vários grupos
terroristas. Será que faz sentido para a Turquia invadir a Síria e se
opor a todas estas forças simultaneamente?”, pergunta.
Osman Koruturk ressalta que os EUA perseguem os seus próprios
interesses apoiando os curdos sírios e não se importam com a opinião de
Ancara neste assunto:
“A América usa as forças do PYD contra o Daesh
na região, de modo que a colaboração com os curdos sírios é muito
importante para a liderança americana. Como se sabe, os Estados Unidos,
neste caso, tentam defender os seus próprios interesses. E, de acordo
com as declarações da liderança norte-americana, eles não se importam se
a Turquia vê os curdos sírios como terroristas ou não"
Relativamente à questão sobre o que deve a Turquia fazer nas atuais circunstâncias, Osman Koruturk respondeu da seguinte forma:
"Primeiro de tudo, a Turquia tem de rever radicalmente a sua política
síria, que está errada desde o início até ao fim. Todos os problemas
com que a Turquia se defronta hoje, incluindo os ataques terroristas,
decorrem disso mesmo.
Além disso, o diplomata apelou às autoridades de seu país para
"conduzir uma política equilibrada, destinada a garantir a integridade
territorial do Estado vizinho e a estabelecer relações estáveis na
região".
Ancara considera o partido curdo PYD como um braço do Partido dos
Trabalhadores do Curdistão (PKK), tratado como uma organização
terrorista na Turquia.
O apoio de Washington à legitimidade dos curdos sírios está gerando
tensão na relação entre os EUA e Ancara. Após instrutores militares
norte-americanos terem realizado o treinamento de alguns grupos de
combatentes curdos, o presidente turco Tayyip Erdogan chegou a declarar
que os EUA teriam que fazer uma escolha entre Ancara e os curdos.