terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Marissa Mayer é uma microempreendedora em uma grande empresa

CEO do Yahoo Marissa Mayer na CES 2014 

 Executiva chegou ao Yahoo com status de salvadora, mas frustrou expectativas, diz Nicholas Carlson, autor do best-seller que conta a trajetória de Marissa.

A executiva Marissa Mayer chegou ao Yahoo em julho de 2012 como potencial salvadora da companhia. Na ocasião, o Yahoo, uma das empresas pioneiras da internet nos anos 90, sofria para manter e atrair talentos e perdia espaço para concorrentes da indústria americana de tecnologia, como Facebook e Google - no qual, aliás, Marissa construiu sua boa reputação. A expectativa com a comandante era tão alta que, pelas paredes da companhia, funcionários espalhavam cartazes com sua foto editada como a usada na campanha de 2007 do então candidato à presidência dos Estados Unidos Barack Obama. Hope, ou esperança, era a mensagem nos cartazes de Obama. Marissa era a esperança de que a empresa voltasse a brilhar.

Passados três anos e meio, Marissa vive um inferno astral à frente do Yahoo - e, até o momento, não entregou o que se esperava dela. Enquanto as receitas da empresa caem, ela é criticada por sua personalidade centralizadora, apostas erradas em novos produtos e a falta de tato com os funcionários. "'Marissa Mayer é uma microempreendedora comandando uma grande empresa", disse ao site de VEJA o jornalista Nicholas Carlson, autor de Marissa Mayer and the fight to save Yahoo! ("Marissa Mayer e a luta para salvar o Yahoo!", em tradução literal). O livro, que conta a trajetória da executiva e seu desafio de tentar fazer a empresa se reinventar, foi um dos mais vendidos dos Estados Unidos em 2015.

Quando começou, o Yahoo notabilizou-se por criar ferramentas para que as pessoas pudessem usar a internet de maneira descomplicada, fazendo com que qualquer leigo tirasse o melhor dela. "Marissa queria que a empresa voltasse a ser o que foi no começo da internet", diz Carlson. "Mas, em vez de criar sites, e ferramentas para esses sites, ela sugeriu a criação de aplicativos."

Com essa diretriz, a companhia montou uma equipe com 400 desenvolvedores para criar startups que tivessem como norte facilitar a vida dos usuários. O problema é que Apple e Google, dois de seus maiores concorrentes, já tinham trilhado antes o caminho do desenvolvimento de aplicativos, e de maneira revolucionária. Assim, enquanto a concorrência criava milhares de aplicativos por ano, o Yahoo fazia seis. "É uma loteria dos apps", brinca o autor.

Nos últimos meses, multiplicaram-se as críticas ao desempenho da executiva feitos pela imprensa, por acionistas da companhia e também analistas de mercado. E as críticas têm razão de ser, afirma Carlson. "O plano de Marissa de ressuscitar o Yahoo não funcionou", resume.

Com um histórico de decisões arbitrárias, término do programa de home office e tentativa de ocultar demissões, instaurou-se um clima de medo e incerteza entre os funcionários do Yahoo. Detratores a chamam de Evita, em referência a Eva Perón, a ex-mulher do ditador argentino Juan Perón, conhecida por sua ascensão ao poder e desejo de fama. Muitos desses críticos acreditam que Marissa esteja mais preocupada com a construção da própria imagem do que trabalhando para resolver os problemas do Yahoo.

 

Jamais será - Carlson acredita que é tarde demais para Marissa salvar a empresa. "A menos que surja um milagre, o Yahoo nunca será uma empresa tão grande quanto Linkedin e Facebook, porque é uma empresa velha que parou no tempo", diz. "O Yahoo vive hoje do sucesso que fez no passado, do começo da internet." E continua o escritor: "Ela é uma pessoa brilhante e admirável, mas não tem o perfil de um CEO." Entre as falhas da executiva, diz, estão a dificuldade para delegar funções e se relacionar com pessoas.

Outro grande erro da executiva foi sua falta de habilidade para contratar profissionais. Duas contratações em particular atestam essa constatação, segundo Carlson: Henrique de Castro, que tinha como objetivo reparar a relação da empresa com as agências de publicidade, e Kathy Savitt, responsável pelo marketing. Em quinze meses na empresa, De Castro faturou 50 milhões de dólares, sendo o funcionário mais bem pago do ramo tecnológico, e não trouxe grandes resultados para o Yahoo. "Em de usar seu carisma, que existe, sim, e de aproveitar sua fama para achar pessoas boas para assumir essas vagas, Marissa se rendeu a quem fez o melhor marketing pessoal", afirma o autor.

O jornalista está preparando agora um novo livro, uma continuação de seu best-seller, para tratar mais diretamente da gestão de Marissa à frente do Yahoo. "O livro vai falar menos dela e mais dos detalhes da sua gestão", diz Carlson. "E já adianto: acho que ela não fez um bom trabalho."

 

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