A ligação entre salários e desemprego parece quebrada em grande parte da economia do mundo industrial. Na Alemanha, nem tanto.
Declínios acentuados na taxa de desemprego nos EUA e no Reino Unido têm demorado muito em incentivar ganhos salariais significativos.
Isto fez com que os economistas debatessem se a relação tradicional conforme a qual mercados de trabalho mais ajustados vêm com salários mais altos e no final das contas, inflação – a chamada Curva de Phillips, no linguajar da profissão – não funciona em uma economia globalizada.
Contudo, na Alemanha, onde a taxa de desemprego é a mais baixa em um
quarto de século, a tabela mostra um padrão mais clássico. Então, o que é
diferente?
A divisão
Nos EUA, os salários estão dando os primeiros sinais de aumento em se
analisando a média de ganhos por hora, mas a média semanal continua
apresentando uma tendência horizontal.
A recuperação fraca intrigou muitos economistas, porque o desemprego
está em níveis considerados por muitos como consistentes com uma
economia saudável. Isso deveria elevar os salários, porque as empresas
concorrem pelos trabalhadores.
A situação no Reino Unido é parecida: os ganhos estão dando sinais de
uma alta nascente, mas que está parando, apesar de que a taxa de
desemprego é a mais baixa em uma década.
O Banco da Inglaterra disse no mês passado em seu Relatório de Inflação
que a tendência “vai contra a melhoria constante em outras condições do
mercado de trabalho”.
Na Alemanha, a maioria dos salários tem avançado em sentido contrário à taxa de desemprego.
A causa
Por que a Alemanha está desafiando o colapso da curva de Phillips?
Provavelmente porque o país eliminou de verdade a inatividade no mercado
de trabalho, diz Jacob Funk Kirkegaard, membro superior do Peterson
Institute for International Economics.
“Pode-se dizer honestamente que a Alemanha tem pleno emprego; mas esse é
um argumento difícil de sustentar no caso dos EUA”, disse Kirkegaard.
Os níveis de emprego na Alemanha beiram um recorde, mas a proporção de
americanos com emprego ou procurando emprego um caiu para o patamar mais
baixo desde a década de 1970.
Esse conjunto de mão de obra deixada de lado poderia evitar que os empregadores sintam a pressão para aumentar os salários.
Em comparação com os EUA, a Alemanha também tem sindicatos fortes que podem pressionar por aumentos salariais, disse Kirkegaard.
Outra possibilidade é que a Alemanha simplesmente esteja sendo
recompensada por uma interrupção de sua relação com a Curva de Phillips
ocorrida muito antes.
Os salários na Alemanha estagnaram antes da crise financeira em meio a
reformas no mercado de trabalho, portanto “pode-se argumentar que a
Alemanha só foi a precursora das Curvas de Phillips mais baixas e
planas”, disse David Milleker, economista-chefe da Union Investment em
Frankfurt.
Também vale a pena destacar que embora a Alemanha “talvez seja um país
onde a relação simplesmente se mantém melhor, é um pouco surpreendente
que o crescimento dos salários não esteja aumentando mais rapidamente”,
disse Frederik Ducrozet, economista do Banque Pictet Cie em Genebra.
E apesar de que o nível de desemprego em fevereiro foi o mais baixo
desde a reunificação, o terceiro pé da relação – uma recuperação da
inflação – ainda não se materializou.
As implicações
Uma relação mais forte com a Curva de Phillips tem um lado positivo para
a Alemanha: salários mais altos apoiam o gasto do consumidor, que pode
compensar uma desaceleração nas exportações.
Em contraste, ganhos salariais constantemente fracos nos EUA e no Reino Unido poderiam abafar o poder aquisitivo.
“Isto tem implicações sociais, mas na minha visão, também tem
implicações macroeconômicas”, disse Kirkegaard. “No final das contas,
restringirá o potencial dos EUA para crescer muito mais rapidamente do
que têm crescido”.