segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Brasil fará seis testes antidoping surpresa antes dos Jogos



Os 50 principais atletas do Brasil, todos candidatos a pódio nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, farão seis controles de dopagem até julho. No mínimo. De acordo com Marco Aurelio Klein, secretário nacional da Autoridade Brasileira do Controle de Dopagem (ABCD), essa varredura, que começou em novembro, tem como objetivo “evitar comparações com a Rússia", envolvida em escândalos de doping em série. A preocupação é real, pois o Brasil, segundo ele, passou a fazer testes surpresa apenas no ano passado, e assim, corre atrás do tempo perdido. A entidade assumiu as análises antidoping de todos os esportes no país, menos do futebol.

— Em 2013, no Brasil, foram feitos apenas dois exames surpresa. E quem atesta isso não sou eu. É a Wada (Agência Mundial de Controle de Dopagem) — declara Klein, que afirma que a tendência internacional é que os exames sejam feitos fora de competição. — Aqui, o camarada avisava que na semana seguinte faria controle surpresa. Fizemos um levantamento de 2012 e 2013 e, de 5 mil atletas, olímpicos e paralímpicos, 80% nunca haviam feito antidoping.

Os 50 postulantes a medalha no Rio, que farão seis antidoping, estão no grupo alvo de testes da ABCD, que totaliza 250 atletas, ou da respectiva Federação Internacional. Desse total, 150 passaram por, ao menos, um controle fora de competição, cujos exames foram analisados pelo Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem, recredenciado em 2015.
Atletas do grupo alvo de testes precisam manter atualizada sua localização a cada 90 dias e estabelecer janela de 60 minutos diários para eventual controle.

Mas, a imensa maioria desses 250 atletas não tem passaporte biológico (ABP), criado pela Wada em 2009. Somente alguns dos 50 mais importantes atletas do Brasil têm esse controle já administrado pela respectiva Federação Internacional. A ABCD começou a coletar sangue para o ABP em 2015 e iniciou a construção de 47 documentos no país. São necessárias três coletas de sangue, no mínimo, para traçar o perfil hematológico. O ABP tem dois módulos: esteroidal (coleta de urina para checar esteroides não produzidos pelo organismo), lançado pela Wada em 2014, e o hematológico.

Esse programa pode estabelecer se há manipulação das variáveis fisiológicas sem necessariamente detectar uma substância específica. Segundo a Wada, com essa análise, aumentaram em 240% os casos de dopagem sanguínea entre 2009 e 2013, com mais de 300 atletas punidos.
Eduardo De Rose, membro da Wada, conta que no Rio serão feitas cerca de 200 coletas de sangue para ABP de estrangeiros, e que a Wada já prepara novo módulo, o endocrinológico, para checar hormônios como a insulina e o de crescimento (hgH).
Para De Rose, o Brasil tem muito a evoluir. Esportes coletivos, como basquete e vôlei, fazem controles ínfimos. Ambas as modalidades ficaram dois anos sem antidoping por causa do descredenciamento do único laboratório do país (2013) que analisava os testes de urina. Bancados pela ABCD, com verba federal, os esportes voltam ao controle.


— Nunca passei por antidoping no Brasil, só quando estava no exterior com a seleção — conta a ex-atleta Hortência, que jogou por cerca de 25 anos, incluindo as décadas de 80 e 90.
Segundo a LBF, liga feminina de basquete, na temporada passada, de 111 jogos, quatro tiveram controle. A NBB, sua versão masculina, informou que, de cerca de 280 jogos, 46 têm análise (16%). Já a CBV explicou que, nas Superligas, cada clube fazia apenas dois controles. Avançando às quartas, semifinais e final, eram submetidos a novas coletas.
Sem comparação com a Rússia
A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e a de Desportos Aquáticos (CBDA) mantiveram os testes mesmo sem laboratório nacional. Em 2015, a CBAt realizou 436 testes (37 fora de competição), cujas amostras foram enviadas ao Canadá. Segundo a CBAt, de 2006 a 2015, foram feitos 4.616 exames (492 surpresa). Depois do futebol, com cerca de 4 mil testes anuais, o atletismo é o mais testado (média de 425 testes anuais). Já a CBDA informou que, em 2015, realizou 72 exames e que os surpresa “só ocorrem agora, com a ABCD”.

— O Brasil tinha algumas ações de controle de dopagem, mas não dá para dizer que antes da ABCD não se fazia nada. Eu mesmo coordenei coletas surpresa para o Comitê Olímpico Brasileiro antes de Olimpíadas e Pan-Americanos. Em 2003, flagramos Maurren Maggi, por exemplo (clostebol), que não foi a Santo Domingo — garante De Rose.
A ABCD, com orçamento de R$ 15 milhões, fará 2,5 mil testes, sendo 70% surpresa — nos EUA, os atletas olímpicos fazem mais de 30, sendo 80% surpresa em 2016. Também fará em estrangeiros em aclimatação no país e até no Uruguai e na Argentina (a pedido das federações internacionais ou de seus comitês). O órgão não controlará o doping nos Jogos.

Em 2015, com R$ 10 milhões, a ABCD fez 1,5 mil testes, em mais de 30 modalidades, incluindo corrida de rua, MMA e futebol (Copinha). A maioria entre setembro e dezembro: neste período, 43% dos testes foram surpresa, e em 20% teve coleta de sangue. Contando análises de EPO (eritropoietina), hHG e para ABP, os testes chegam a 4 mil.
No ano, foram detectados 28 casos positivos de conhecimento da ABCD, 13 deles ainda em julgamento. Em uma mesma missão surpresa, três ciclistas foram pegos com EPO (Cleberson Weber, Uênia Fernandes de Souza e Alex Arseno).


— Uênia foi absolvida em julgamento irregular. Recorremos e foi punida com quatro anos de suspensão pelo STJD — explica Klein.
Outro caso recente, da boxeadora Clélia Costa, bronze no Mundial de 2014, pega em exame surpresa (furosemida), teve pena aumentada de seis meses para dois anos, após revisão.
— E se estivéssemos nos Jogos? Um vexame. Ela tinha chance de medalha. E se acontecer com três atletas do Brasil? Vão dizer que somos a Rússia. Me sinto mal com casos positivos, mas também aliviado de tirá-los da competição. Nossa meta é zero positivos nos Jogos

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