por Marcus Woo
Da BBC Earth
A água residual reciclada é segura para o consumo e tem o mesmo gosto que qualquer outra água potável. "Na realidade, podemos dizer que esse tipo de água é até relativamente doce", afirma Anas Ghadouani, engenheiro ambiental na Universidade Western Australia.
Estimuladas por problemas causados pelo aumento populacional e por secas intensas semelhantes às enfrentadas pelo Brasil recentemente, muitas cidades do mundo já estão incorporando água residual reciclada no abastecimento para o consumo.
Reciclar não é apenas uma necessidade – um futuro sustentável no gerenciamento da água vai exigir projetos como esses. Não há dúvidas de que isso vai acontecer
Para algumas pessoas, nem mesmo as circunstâncias mais dramáticas conseguem fazê-las mudar de ideia. Em 2006, por exemplo, a cidade de Toowoomba, no leste da Austrália, tentou implementar a reciclagem de águas residuais após anos de seca. Mas os planos foram literalmente por água abaixo, com 62% da população tendo votado contra o projeto em um referendo. "A reciclagem de água é algo com enorme força, mas politicamente é um problema"
Hoje, empresas como a Water Corporation, que administra o fornecimento de água em Perth e todo o oeste da Austrália, têm integrado água reciclada a sua própria rede de abastecimento.
O oeste da Austrália já é um dos locais mais secos da Terra, sofrendo com a falta de água há mais de 15 anos. As mudanças climáticas só tendem a piorar a situação. Para aliviar, a Water Corporation recorreu à dessalinização em 2006, usando usinas de tratamento para transformar água do mar em água doce.
O processo é caro, mas eficiente. Hoje, ele responde por 39% do fornecimento de água da região. As águas subterrâneas representam 43% do suprimento, enquanto o resto vem de reservatórios. Mas com a seca persistente, a água residual reciclada pode oferecer mais segurança a um custo mais baixo.
A empresa adotou um modelo semelhante ao que foi visto no Orange County, na Califórnia: bombear as águas residuais para aquíferos a fim de reabastecer o suprimento de águas subterrâneas. Os aquíferos servem como "armazenamento" gratuito e agem como uma espécie de fator psicológico que ajuda a minimizar o "nojo".
Os planos da Water Corporation são de aumentar o uso dessa água reciclada até que ela responda por 20% do abastecimento da cidade de Perth.
Essa abordagem interdisciplinar é fundamental. Segundo Scales, outra fonte de água ainda subaproveitada são as chuvas. "Se conseguirmos reciclar as águas residuais e coletarmos toda a água da chuva que cai pelas calhas, seria possível abastecer uma cidade inteira", diz.
Mas convencer a população e construir toda a infraestrutura necessária para aproveitar a água das chuvas levaria anos ou até décadas.
Lugares como Cingapura, Bélgica, a cidade de Windhoek, na Namíbia, e Wichita Falls, no Texas, já começaram reciclar águas residuais.
Na maioria das grandes metrópoles mundiais, como as da Ásia ou da América do Sul, a falta de água potável pode levar a doenças - no Brasil, por exemplo, é comum haver focos de dengue em locais de seca.
"O suprimento de água nesses locais é contaminado por águas residuais", afirma Scales. "Mas o tratamento dessa água contaminada é semelhante ao que é feito na reciclagem."
Por isso, não importa o nome dado à iniciativa – purificação, reciclagem ou "toilet-to-tap". Todos estão por trás da mesma ideia: oferecer água limpa a todos.
O nome assusta e é pouco fiel à
realidade de uma iniciativa que já está sendo adotada em algumas partes
do mundo. O "toilet-to-tap" (ou "da privada para a torneira", em
tradução literal) é uma técnica que reutiliza, para o consumo interno e
externo, toda a água que escorre pelos ralos (inclusive a da descarga
das privadas).
Se a ideia parece, literalmente, dura de engolir, é
bom saber que técnica envolve a filtragem e o tratamento da água
"suja", deixando-a tão pura como a água de uma nascente – talvez ainda
mais. Alguns bons exemplos disso vêm da Austrália.A água residual reciclada é segura para o consumo e tem o mesmo gosto que qualquer outra água potável. "Na realidade, podemos dizer que esse tipo de água é até relativamente doce", afirma Anas Ghadouani, engenheiro ambiental na Universidade Western Australia.
Estimuladas por problemas causados pelo aumento populacional e por secas intensas semelhantes às enfrentadas pelo Brasil recentemente, muitas cidades do mundo já estão incorporando água residual reciclada no abastecimento para o consumo.
Reciclar não é apenas uma necessidade – um futuro sustentável no gerenciamento da água vai exigir projetos como esses. Não há dúvidas de que isso vai acontecer
Fator ‘nojo’
Inevitavelmente, o fator "nojo" também tem seu papel. Recentemente, o psicólogo Paul Rozin, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, realizou uma pesquisa com 2 mil pessoas e descobriu que, apesar de 49% se dizerem dispostas a experimentar a água residual reciclada, 13% se recusaram, enquanto o resto se mostrou indeciso.Para algumas pessoas, nem mesmo as circunstâncias mais dramáticas conseguem fazê-las mudar de ideia. Em 2006, por exemplo, a cidade de Toowoomba, no leste da Austrália, tentou implementar a reciclagem de águas residuais após anos de seca. Mas os planos foram literalmente por água abaixo, com 62% da população tendo votado contra o projeto em um referendo. "A reciclagem de água é algo com enorme força, mas politicamente é um problema"
Hoje, empresas como a Water Corporation, que administra o fornecimento de água em Perth e todo o oeste da Austrália, têm integrado água reciclada a sua própria rede de abastecimento.
O oeste da Austrália já é um dos locais mais secos da Terra, sofrendo com a falta de água há mais de 15 anos. As mudanças climáticas só tendem a piorar a situação. Para aliviar, a Water Corporation recorreu à dessalinização em 2006, usando usinas de tratamento para transformar água do mar em água doce.
O processo é caro, mas eficiente. Hoje, ele responde por 39% do fornecimento de água da região. As águas subterrâneas representam 43% do suprimento, enquanto o resto vem de reservatórios. Mas com a seca persistente, a água residual reciclada pode oferecer mais segurança a um custo mais baixo.
A empresa adotou um modelo semelhante ao que foi visto no Orange County, na Califórnia: bombear as águas residuais para aquíferos a fim de reabastecer o suprimento de águas subterrâneas. Os aquíferos servem como "armazenamento" gratuito e agem como uma espécie de fator psicológico que ajuda a minimizar o "nojo".
Os planos da Water Corporation são de aumentar o uso dessa água reciclada até que ela responda por 20% do abastecimento da cidade de Perth.
Riquezas da chuva
A combinação de reciclagem, dessalinização e preservação ambiental está ajudando Perth a se tornar resistente a secas. "Nós nos tornamos um exemplo internacional no que se refere à maneira como respondemos às mudanças climáticas", afirma Clare Lugar, porta-voz da Water Corporation.Essa abordagem interdisciplinar é fundamental. Segundo Scales, outra fonte de água ainda subaproveitada são as chuvas. "Se conseguirmos reciclar as águas residuais e coletarmos toda a água da chuva que cai pelas calhas, seria possível abastecer uma cidade inteira", diz.
Mas convencer a população e construir toda a infraestrutura necessária para aproveitar a água das chuvas levaria anos ou até décadas.
Lugares como Cingapura, Bélgica, a cidade de Windhoek, na Namíbia, e Wichita Falls, no Texas, já começaram reciclar águas residuais.
Na maioria das grandes metrópoles mundiais, como as da Ásia ou da América do Sul, a falta de água potável pode levar a doenças - no Brasil, por exemplo, é comum haver focos de dengue em locais de seca.
"O suprimento de água nesses locais é contaminado por águas residuais", afirma Scales. "Mas o tratamento dessa água contaminada é semelhante ao que é feito na reciclagem."
Por isso, não importa o nome dado à iniciativa – purificação, reciclagem ou "toilet-to-tap". Todos estão por trás da mesma ideia: oferecer água limpa a todos.
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