Educação, saúde, renda, satisfação com a vida: as crianças
estão longe de ser iguais nos países ricos e as diferenças aumentam em
vários deles entre as mais desfavorecidas e as demais, segundo um
relatório da Unicef publicado nesta quinta-feira.
"Os avanços para reduzir as desigualdades de bem-estar entre as crianças
são muito pequenos", destaca o relatório do centro de investigação
Innocenti da Unicef, que propõe uma classificação destas disparidades em
41 países da OCDE e da União Europeia.
Em muitos países, "a diferença aumentou entre as crianças mais
desfavorecidas e seus pares desde os anos dois mil", ressalta este
"Balance Innocenti 13" redigido por John Hudson e Stefan Kuhner, que
descreve uma situação com tendências globais decepcionantes.
"Nenhum país conseguiu realmente reduzir a diferença em matéria de
problemas de saúde apontados pelos menores" (dores de cabeça, nas
costas, barriga, insônia...). As desigualdades inclusive se acentuaram
em 25 países, com aumentos consideráveis na Irlanda, Malta, Polônia e
Eslovênia.
Entre os adolescentes, "as disparidades entre os sexos estão
disseminadas e são persistentes" em matéria de saúde e as meninas correm
maior risco de serem deixadas de lado. Em dez países, estas
disparidades aumentaram.
Em educação, "poucos países conseguiram reduzir ao mesmo tempo a
diferença de êxito e o número de alunos com dificuldades de leitura".
Outrora exemplares, Finlândia e Suécia viram as desigualdades aumentarem
e o nível de êxito cair.
Em todos os países da OCDE, os menores mais desfavorecidos sofrem um
atraso equivalente a três anos de escolarização em leitura em relação à
"criança média". Em um país como a França, "a diferença entre os
resultados dos alunos em função de seu meio social é muito importante",
segundo o documento.
Insatisfeitos com suas vidas
No Chile, México, Bulgária e Romênia, quase um quarto dos alunos de 15
anos carecem das aptidões e competências necessárias para resolver
exercícios básicos de leitura, matemática e ciências, algo
"particularmente alarmante" para a Unicef.
Consequência da crise, em 19 dos países examinados, entre eles Espanha,
Grécia, Itália e Portugal, ou ainda México, Israel ou Japão, as crianças
mais pobres não chegam à metade das receitas da criança média de seus
países.
Quanto à diferença de "satisfação na vida", aumentou em mais da metade
dos países, sobretudo em Bélgica, Espanha e República Tcheca.
Em Alemanha, Espanha, Estados Unidos, em Islândia, Irlanda e Itália, os
filhos da imigração apontam um nível de satisfação com suas vidas menor
que os outros.
E ainda há as meninas. Cerca de 30% das francesas de 15 anos se mostram insatisfeitas com suas vidas, contra 14% de meninos.
No campo das boas notícias, as desigualdades na prática de uma atividade
física e em matéria de maus costumes alimentares diminuíram na maioria
dos países ricos.
Certos países com índices de handicap educacional mais altos (Chile,
México, Romênia) registraram uma forte diminuição das diferenças de
êxito e uma alta no nível geral de competências.
Os países bálticos, por sua vez, reduziram as desigualdades de
satisfação das crianças em relação as suas vidas. Em outros, como
Finlândia ou República Tcheca, a diferença de renda caiu entre 2008 e
2013.
O relatório se baseia nos dados mais recentes disponíveis, que variam segundo os países, de 2007 a 2014.
Uma conferência organizada pela Unicef, "Mais igualdade para as
crianças", reúne nesta quinta-feira especialistas internacionais em
Paris.
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