domingo, 7 de fevereiro de 2016

Economia fraca aumenta sintomas de depressão



 Um assunto se tornou predominante nos consultórios psiquiátricos de uma clínica particular na Zona Sul e no programa de atendimento gratuito da área de saúde mental da Santa Casa da Misericórdia, no Centro. A crise econômica foi parar no divã, levada por profissionais de diferentes perfis. São trabalhadores temendo perder o emprego ou já dispensados e executivos atormentados por ter de demitir centenas de pessoas na recessão.


— Há uma angústia com a situação atual e a falta de uma perspectiva de melhora na economia. Principalmente entre aqueles com predisposição, aparecem sintomas claros de depressão. Insônia, estresse e angústia são comuns nesses pacientes — descreve a psiquiatra Analice Giglioti, diretora do Espaço Clif. — Aumentou muito também a procura por antidepressivos, mas os médicos devem ter toda cautela ao receitar esses remédios.

Na clínica em Botafogo, cada consulta com um psiquiatra custa a partir de R$ 490. Entre os pacientes afetados pela crise, executivos são maioria. Este também é o perfil mais comum entre as pessoas atendidas nas unidades de medicina preventiva da Med-Rio Check-Up. Segundo uma pesquisa da empresa com dados de seus pacientes, de 2014 a 2015, aumentaram de 8% para 11% os casos de depressão, de 21% para 25% os quadros de insônia, de 20% para 32% os relatos de ansiedade e de 55% para 70% os registros de estresse.

— O Brasil está fazendo mal à saúde dos brasileiros. O ambiente hoje é rico em emoções negativas, como tristeza e medo. Isto abre portas para problemas como gastrite, úlcera, hipertensão e até mesmo um acidente vascular cerebral (AVC) ou um infarto — comenta o médico Gilberto Ururahy, diretor da Med-Rio e autor do livro “Emoções e saúde” junto com o psiquiatra Eric Albert. — Alimentação equilibrada e exercícios regulares são ótimas formas de evitar esses males. Sedentarismo só agrava os problemas causados pelo estresse.

‘NÃO DURMO SEM MEDICAMENTO’
Diferentes estudos associam crises como aquelas que abateram a Europa e os EUA a partir de 2008 a elevações de casos de depressão emocional e até de suicídios. O uso de antidepressivos também pode apresentar curva ascendente. No Brasil, segundo dados compilados pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), o consumo de antidepressivos e tranquilizantes subiu 14% de novembro de 2014 a outubro de 2015, quando superou 1,5 bilhão de doses.

Vendidos sob apresentação de receita médica, esses remédios são caros e, portanto, fora do alcance da maior parte da população. Da mesma forma, consultas psiquiátricas representam um custo que pessoas com renda menor nem sempre conseguem arcar. Na Santa Casa de Misericórdia, porém, um serviço de atendimento gratuito recebe pacientes de baixa renda. Também lá, a inflação e o desemprego se tornaram o tópico principal das consultas.


— A angústia gerada pela possibilidade de não pagar o aluguel ou mesmo de não comprar comida para a família é gatilho para a depressão — explica a psiquiatra Fátima Vasconcelos, da Santa Casa. — Alguns pacientes abandonam o tratamento por falta de dinheiro até para as passagens de ônibus. É muito triste.

Já a advogada X., que pediu para não ser identificada, vive o impacto da crise na classe média. Casada com um engenheiro que está sem salário há mais de um ano, ela desenvolveu insônia e depressão, mas abandonou as consultas com sua psiquiatra por não ter como pagar:
— Tenho rezado muito para me acalmar. Mas não consigo dormir sem medicamento.

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