sábado, 25 de junho de 2016

Perder a memória não significa perder as habilidades

derrame, avc, raio-x, doenças cerebrovasculares, doenças vasculares

Ela era uma artista renomada, cujos trabalhos já foram capa da revista New Yorker seis vezes. Tocava violino em uma orquestra amadora e, como hobbie, aprendeu a pilotar um avião monomotor, com o qual realizou mais de 400 viagens.

Mas, aos 64 anos, tudo caiu por terra: uma encefalite viral destruiu o ponto do cérebro onde são criadas e alojadas as memórias - o hipocampo. Meses depois, porém, os médicos perceberam que, apesar de as memórias terem desaparecido completamente, as habilidades de Lonni Sue Johnson estavam preservadas.

A doença deixou o cérebro de Lonni com sérios danos. Hoje, ela não consegue lembrar nem de eventos importantes de sua vida - como o próprio casamento -, nem de coisas que ela acabou de fazer - como escovar os dentes.

Ela não consegue aprender nada novo, e não tem conhecimento de como o mundo funciona - incluindo o que era super conhecido por ela, como o mundo da arte.

Mas, quando questionada sobre como pilotar um avião, como pintar uma aquarela ou para que servem as cordas de um violino, ela responde rapidamente.

Lonni é um caso tão intrigante que passou a ser estudado pela Universidade John Hopkins, onde os cientistas determinaram o quanto as habilidades da ex-artista haviam sido mantidas.

Para isso, aplicaram um teste oral com perguntas específicas sobre cada uma das áreas que a mulher tinha mais facilidade - artes, música e vôo.

As questões eram simples, como "qual a melhor forma de remover água em excesso da aquarela?" ou "como fazer para um avião não tombar para o lado?".

O mesmo teste foi aplicado para outras 80 pessoas, com a mesma idade de Lonni - entre elas, experts nessas áreas. O resultado surpreendeu os pesquisadores: Lonni superou os leigos nas questões sobre aviação e música, e foi melhor do que os experts nas perguntas sobre arte.

O caso sugere que a concepção científica mais aceita do que é "memória" está errada. Até agora, os neurocientistas acreditavam que a memória só se diferenciava de habilidades mecânicas, como andar de bicicleta, mas o quadro de Lonni mostra que a coisa é diferente: as habilidades que ficaram marcadas na cabeça dela não são meramente corporais; são complexas como pilotar um avião e abstratas como a pintura e a música.

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