quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Grupo PSA vende mais carros na Argentina do que no Brasil

Produção de carros do grupo PSA, dono da Peugeot e Citroën, na planta de Mulhouse, França

 O grupo francês PSA, dono das marcas de automóveis Peugeot e Citroën, voltou a ter lucro na América Latina em 2015, dois anos antes do que era esperado num programa de recuperação que foi lançado em abril de 2014.

Em entrevista à EXAME, o português Carlos Gomes, presidente da PSA para a região, afirmou que a operação no Brasil deu prejuízo no ano passado, mas que o resultado da empresa na região acabou sendo compensado pelo bom desempenho dos países vizinhos.

Desde 2013, o grupo está vendendo mais carros na Argentina do que no Brasil. No ano passado, as vendas foram 25% superiores na Argentina: foram 73 048 unidades comercializadas no país, contra 58 196 no Brasil.

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Em meio à crise brasileira, a empresa está criando oportunidades para exportar carros para outros continentes, como o africano. 

Como a PSA conseguiu voltar ao lucro em 2015, dois anos antes do planejado? 

Adequamos o custo fixo a um patamar menor de vendas. Hoje, conseguimos obter um lucro no mundo a partir da venda de 1,6 milhão de unidades. Antes, esse ponto era a partir de 3 milhões de unidades.

Reduzimos os custos com o fechamento de uma fábrica na França, a diminuição do número de linhas de montagens e a readequação da mão de obra e processos.

Também reduzimos o número de produtos. Passamos de 45 para 39 automóveis, com foco nos modelos que remuneram melhor.

Tivemos perda de vendas, mas nos concentramos naqueles carros que trouxeram melhor margem para nós. Tudo isso aconteceu no mundo e também na América Latina. 

Como foi o desempenho da PSA no Brasil? 

No Brasil, tivemos um prejuízo de 2,6 bilhões de reais em 2013 e de 700 milhões em 2014. Em 2015 continuamos no prejuízo aqui, mas o número não deve ter sido pior que o de 2014 (os dados ainda não foram divulgados oficialmente).

O Brasil deveria ser a locomotiva da região, mas não é. 

 

Estamos extremamente preocupados com isso. Não se descortina uma saída em breve, já que não estamos vendo a tomada de decisões fundamentais para o país melhorar lá na frente.

Isso tem consequências para o nosso setor: os investimentos em novas tecnologias e novos produtos vão ser geridos mais a ‘conta gotas’ do que num cenário favorável.

Quais países compensaram o desempenho ruim do Brasil para que a PSA tivesse lucro em 2015 na região? 

Basicamente todos os outros. No Chile, estamos ganhando participação de mercado, e chegamos a 6% no ano passado. No México, nossas vendas cresceram 34% em 2015.

Na Argentina, onde temos uma participação de 15%, a situação está melhorando. Hoje vendemos mais carros na Argentina no Brasil. isso mesmo com o mercado argentino representando apenas um quarto do brasileiro.

Com a liberação dos dólares na Argentina, vamos quitar até meados de março uma dívida da unidade argentina com as unidades da França e do Brasil.

Havíamos reduzido as atividades na Argentina porque não queríamos elevar ainda mais o endividamento.

Agora, não há mais essa barreira. No país, o direcionamento econômico é bom e o profissionalismo e a comunicação do governo são excelentes.

O que a PSA tem feito para enfrentar a crise no Brasil?

Há um ano e meio decidimos investir em um programa para fortalecer o ciclo local de fabricação de peças, para dependermos menos das importações.

O ritmo está acima do que esperávamos. Hoje, a média da região é de 65% de nacionalização das peças. A meta é chegar a 85% até 2018. Para os novos produtos, serão 90%.

Obviamente essa é uma boa notícia para o Brasil, para nós e para os nossos fornecedores. Além disso, estamos vendo oportunidades para exportar além da América Latina. Estamos trabalhando na possibilidade de vender o C3 Aircross para países da África.

Coloquei uma meta para a equipe de desenhar três casos de êxito de exportação para fora da região da América Latina neste ano.

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