
O Ministério Público de São Paulo já reuniu provas suficientes para
denunciar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua mulher, Marisa
Letícia, pelos crimes de ocultação de patrimônio na investigação sobre o
apartamento triplex que o casal manteve no edifício Solaris, no
Guarujá. A informação é do promotor Cassio Conserino, que comanda as
investigações sobre a transferência de prédios inacabados da Bancoop, a
cooperativa do sindicato dos bancários que se tornou insolvente e
transferiu as obras para a OAS.
O Solaris é um dos prédios e, segundo Conserino, a família Lula era dona
do triplex, embora o imóvel esteja em nome da construtora OAS. Lula
nega ser dono do apartamento e diz que havia apenas uma opção de compra
em nome de Marisa Letícia, que não havia sido exercida. A informação
sobre a possibilidade da denúncia foi antecipada pela revista “Veja”.
Isso é balela. Temos provas documentais, circunstanciais e
testemunhais de que a família era dona do imóvel, que foi, inclusive,
reformado pela OAS e recebeu elevador privativo para beneficiar o
ex-presidente. Depois que o apartamento foi entregue, tanto Marisa
quanto um dos filhos de Lula, o Lulinha, chegaram a passar alguns dias
no imóvel, que foi desocupado depois que saiu na imprensa. Os móveis
foram retirados, disse Conserino.
Ele explicou que a investigação já passou de 50%, mas ainda não está
concluída. Portanto, ainda não há data para oferecimento de denúncia
contra qualquer dos envolvidos. Depois das investigações, o Ministério
Público de São Paulo terá de ouvir todos os investigados, inclusive o
ex-presidente Lula, antes de oferecer denúncia, permitindo que
apresentem a versão para os fatos e a defesa.
Em dezembro de 2014, quando testemunhas disseram que a família já estava
em posse do imóvel, e em agosto passado, quando foram encontrados
indícios de irregularidades envolvendo o prédio Solaris e remessas do
doleiro Alberto Youssef. O doleiro, preso na Lava-Jato por repasse de
propinas de contratos da Petrobras, confirmou em depoimento que fazia o
caixa 2 para a construtora OAS. O ex-presidente Lula processou três
jornalistas do GLOBO pela segunda reportagem, alegando não ser o dono do
apartamento e ter apenas uma opção de compra. Os jornalistas foram
absolvidos em primeira instância.
Lula e dona Marisa dizem que ficaram cinco anos sem decidir se
compravam o triplex ou não. O dono do triplex vizinho pagou R$ 925 mil.
Ele não pagou praticamente nada, e a reforma durou de abril a setembro
de 2014. A família usufruiu do apartamento por uns quatro ou cinco
meses. Depois dela, eles tiraram a mobília, informa o promotor.
Segundo Conserino, o fato de o apartamento ter permanecido em nome da
OAS, que pagou por reformas estruturais, inclusive pelos armários da
cozinha, configura crime de ocultação de patrimônio e pode ser indício
de lavagem de dinheiro, fato que está sendo investigado na Operação
Lava-Jato (a OAS é uma das empreiteiras do cartel da Petrobras). A força
tarefa da Lava Jato apura se há dinheiro de corrupção envolvendo as
obras e o apartamento destinado ao ex-presidente.
O promotor também investiga reformas em um sítio usado por Lula em
Atibaia, no interior de São Paulo, que está em nome de terceiros. Houve
melhorias no imóvel, que ganhou quatro suítes. Elas teriam sido pagas
por José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, outro preso na
Operação Lava-Jato. Segundo Conserino, parte da fundação das obras de
ampliação foi paga a uma empresa fantasma do Paraná, do município de
Colorado, por indicação da Usina São Fernando, que pertence à família
Bumlai.
O promotor afirmou que a investigação também já reuniu provas de
estelionato contra cooperados da Bancoop, crime que envolve o
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, ex-presidente da cooperativa e o
ex-presidente da OAS Leo Pinheiro.
OUTRO LADO
Procurado, o advogado do ex-presidente Lula, Cristiano Zanin Martins,
disse estar “perplexo em saber que um promotor esteja cogitando
denunciar alguém sem ter dado a oportunidade de prévia manifestação”.
Edward Carvalho, advogado da OAS, preferiu não comentar as acusações contra a empresa e seu ex-dirigente Leo Pinheiro.
— Ao invés de ficar dando entrevista, prefiro trabalhar — afirmou Carvalho