A queda do dólar, combinada com o IPCA-15 de junho abaixo do previsto, ajudou a reforçar a aposta do mercado em corte da Selic no segundo semestre.
Embora a curva dos contratos de juros já aponte cerca de 1 ponto
percentual de baixa até dezembro, não há consenso nem sobre prazo em que
o corte vai começar e nem sobre o tamanho da redução.
Espera-se que o cenário fique mais claro com dois eventos esperados para
a próxima semana: a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central
e a reunião do Conselho Monetário Nacional. Ambos, RTI e CMN, serão os
primeiros a contar com a participação do novo presidente do BC, Ilan
Goldfajn.
Os eventos da próxima semana podem ser “cruciais” para as expectativas,
diz David Beker, economista-chefe e estrategista do Bank of America
Merrill Lynch no Brasil. A expectativa é que tanto o RTI quanto o CMN
tragam informações que ajudem o mercado a avaliar como o BC promoverá a
convergência da inflação para a meta de 4,5%.
Os principais pontos a serem esclarecidos, e que vão mostrar se o
otimismo do mercado com a queda dos juros é ou não exagerado, são os
seguintes:
1) Prazo de convergência: Ao mencionar no discurso de
posse em 13 de junho que a convergência da inflação ao centro da meta
deveria ocorrer “em futuro não muito distante”, Ilan Goldfajn gerou no
mercado o debate sobre se o BC poderia ou não estender o prazo de
convergência, hoje fixado em 2017, para 2018.
2) Metas de inflação: O CMN, formado pelo presidente do
BC e ministros da Fazenda e Planejamento, deve discutir as metas de
inflação no final de junho. Espera-se que o órgão ratifique a meta já
conhecida de 4,5% para o próximo ano e defina o objetivo para 2018.
Outra passagem do discurso de Ilan, sobre a convergência à meta ser
“desafiadora e crível”, gerou na semana passada especulação sobre a
adoção de uma “meta ajustada” maior para 2017.
3) Diretoria do BC: Além do RTI e do CMN, este é outro
fator que pode influenciar as expectativas no curtíssimo prazo. O Senado
só deve votar os nomes dos novos diretores indicados por Ilan no começo
de julho. Ou seja, o primeiro RTI de Ilan ainda será feito pela equipe
de Tombini, embora certamente já sob influência do novo presidente. “É
claro que Ilan vai ter influência, a questão é o tamanho desta
influência”, diz Beker.
4) TJLP: A taxa de longo prazo dos empréstimos do BNDES
também pode ser definida pelo CMN. Uma eventual elevação da taxa, hoje
de 7,5%, para um patamar menos distante dos 14,25% da Selic, embora não
seja o cenário mais provável, poderia abrir mais espaço para corte da
Selic, diz David Beker. Junto com a Selic, a TJLP é um dos componentes
da taxa média agregada de juros da economia. Considerando-se que esta
taxa média esteja em um nível adequado, se uma sobe a outra pode cair.
Mesmo reconhecendo que o cenário geral da economia aponta para cortes de
juros, o economista do BofA Merrill Lynch vê maiores chances de que a
redução comece em outubro do que em agosto, como a curva de juros está
precificando hoje. Para ele, o BC deve esperar uma maior desaceleração
da inflação e também uma melhora adicional das expectativas, além da
confirmação do avanço no ajuste fiscal, antes de iniciar o afrouxamento
monetário.
A queda do dólar, diz Beker, ajuda a melhorar as expectativas, mas tem
impacto limitado sobre a inflação corrente. O efeito positivo quando o
dólar cai seria menor do que o impacto negativo quando o dólar sobe.
Isso porque as empresas tendem a lutar para preservar suas margens,
evitando repassar integralmente a valorização do real aos preços.
O fato de a última Ata do Copom ter mostrado o IPCA em 2017 já na meta
de 4,5% não significa espaço adicional para corte de juros, afirma
Beker. Ele pondera que apenas a projeção no cenário de referência
convergiu para a meta, mas este cenário incorpora Selic inalterada em
14,25%. Pelo cenário de mercado, que incorpora cortes de juros, a
inflação do ano que vem segue acima da meta.
Para o economista do BofA, o Copom deverá evitar qualquer movimento
precipitado em relação juros. A nova equipe do BC, diz Beker, deve
escolher a melhor estratégia não para cortar os juros logo, mas para que
a queda das taxas seja sustentável ao longo do tempo.